Identificação e Características do Objeto
Miniatura

Acervo
Acervos Transcestrais
Número de Tombo
169
Número de Registro
MUTHA.AH.AD.AT.DC.2024.0169
Objeto
Desenho digitalizado
Título
O Louco de LaRua
Autoria
Demétrio Campos
Identidade e Subjetivação
20 de Maio de 1996 (Demétrio Campos) | Afro-Indígena (Demétrio Campos) | homem trans | Homem Transmasculino (Demétrio Campos) | Ivoni Campos: “Primeiro transmasculino quilombola do Brasil, pesquisei e não localizei outros” | Macaé/Rio de Janeiro (Demétrio Campos) | Quilombola (Demétrio Campos)
Descrição Intrínseca
Fotografia colorida de um desenho digitalizado em papel branco, feito com caneta azul. O desenho principal é de um personagem careca, com olhos grandes e redondos e sobrancelhas marcantes. Ele está com a boca aberta, e dentro dela há o símbolo do cifrão ($). No papel, também há pequenos desenhos e algumas escritas espalhadas.
Dimensões
1599x899
Material
Digital
Origem
Começou em São Paulo/SP e foi finalizado na casa de sua família em Tamoios (Terra Indígena e Quilombola)/Cabo Frio/RJ
Procedência
Tamoios (Terra Indígena e Quilombola)/Cabo Frio/RJ
Observações
Não
Tipo de Aquisição
Doação
Pessoa ex-proprietária
Ivoni Campos
Data de Aquisição
janeiro 1, 2025
Estado de Conservação
Bom
Classificação Etária
Livre
Informações Contextuais
Descrição Extrínseca
Ah, esse desenho que o Demétrio começou a fazer, é bem difícil, sabe? Ele nem terminou. Ele ia terminar esse desenho, ele começou a fazer, ele desenhava, entendeu? Inclusive tem muita tela dele guardada lá em cima, entendeu? Que eu guardei. Ele pintava muito. [...] Então, deixa eu falar pra você. Esse desenho, o Demétrio começou a fazer ele, só que não terminou, não conseguiu terminar. O Demétrio desenhava, pra você ter noção, o Demétrio tinha uma caixa de tinta que tinha mais ou menos quase cinquenta tintas. E eu dei pro Zaire, doei pro Zaire. São as tintas que o Zaire pinta até hoje, entendeu? Ele gostava muito de pintar, ele tinha uma porção de tela guardada lá em cima. Então, esse desenho aí, o Demétrio, uma vez ele pintando, ele pintava, às vezes eu entrava no quarto dele e eu falei, “Meu filho, tá desenhando esse homem, esse desenho com cifrão na boca?” Achei estranho, né? Ele falou pra mim, falou, “Mãe, vou dar um nome, O Louco de La Rua.”. Aí eu falei pra ele, “Por quê?” Ele falou “Porque esse é o desenho que expressa a forma como é visto o dinheiro e o capitalismo”. Entendeu? [...] Sim, o louco de LaRua. O louco de LaRua, era isso que ele chamava, entendeu? Ele falou que era a forma como... Era visto o capitalismo na tela expressa a fome por dinheiro, a fome por dinheiro. [...] Sim, ele falava para a minha mãe que eu expresso a fome por dinheiro e o olhar altivo do capitalismo. [...] Futuramente, se você quiser enquadrar numa tela, numa foto de vidro, alguma coisa assim, entendeu? Eu acho que vai ficar bom quando tiver um museu físico, entendeu? [...] Esse desenho, eu não sei onde foi feito. Sei que foi feito, entendeu? Em São Paulo, mas o Demétrio estava terminando de rabiscar ele aqui em casa, durante a pandemia, entendeu? Eu sei que ele começou a fazer em São Paulo. Ele chegou de São Paulo com esse rascunho. Ele terminou de rascunhar, tava desenhando, terminando. Mas como ele não estava bem, entendeu? Ele começava as coisas, às vezes não terminava. E ele realmente não terminou. [...] Foi finalizado em casa. Porque quando veio de São Paulo, ele fazia assim, ele riscava com lápis. Tudo que ele fazia, ele riscava primeiro. Depois ele vinha fazendo contorno. Eu tenho ele, ele fez um autodesenho, um autretrato dele. Eu tenho também, ta tudo guardado. Ele mesmo se desenhou. Primeiro ele riscava com lápis, tudinho. Depois, às vezes, ele vinha com uma tinta, óleo, alguma coisa assim. Pintava. Esse aí, ele começou a rabiscar com a caneta. Fazia, fazia. Mas você pode ver que ele não conseguiu terminar. [...] Tá tudo do jeito que ficou. Porque, tipo assim, o quarto... Quando o Demétrio faleceu, entraram dentro da nossa casa, no quarto dele, carregaram uma porção de coisa, não sei quem foi. Invadiu, entendeu? Então tem muita coisa do Demétrio que sumiu, desapareceu. Roupa dele, entendeu? Porque no dia do acontecido, a gente entrou em desespero, todo mundo, a casa ficou aberta, sabe? Entraram, carregaram muita coisa dele. Eu achei esse desenho dele, caído no chão, entendeu? Pode ver que está um pouco meio sujinho. [...] Demétrio, a cabeça do Demétrio. Ele pensava... Todo mundo fala isso e eu também vejo isso. O Demétrio pensava além do tempo, além das pessoas, sabe? Muitos dos meninos que se identificam com ele hoje falam assim, “Tia, o Demétrio pensava muito antes da gente
pensar as coisas, o Demétrio já sabia.” Entendeu? Eu acredito. Ele lia muito, entendeu? Mas eu não sei exatamente. Ele lia de pessoas pretas, sobre capitalismo, sobre socialismo, entendeu? Sobre negritude. O Demétrio lia de tudo. Eu não tenho noção de que livros que ele lia, mas ele falava de muita coisa. [...] Eu tenho um livro também, um diário dele, que ele escrevia poesia. Tem muita poesia. Então, eu não tenho noção mais ou menos, mas eu sei que ele lia muito. Eu tenho sonhos de ver o que ele lia.[...]É isso mesmo que ele falava, entendeu? O Demétrio tinha ideias muito vagas. Ele ficava muito tempo trancado dentro do quarto. Às vezes, ele nem vinha comer. Eu pegava o prato de comida, falava... Às vezes, chegava, achava ele rabiscando, desenhando, entendeu? E eu contava para ele. “O que é isso, meu filho?” Ele tentava explicar, mas tinha muita coisa que eu não entendia. Entendeu? Tinha muita coisa que surgia na cabeça do Demétrio que hoje, para a gente, para pessoas que têm estudo, são acadêmicas, são coisas fortes, sabe? Mas para ele, que não era um menino acadêmico, ele entendia de muita coisa. Entendeu? Tipo, o termo pessoas não binárias, por exemplo, que hoje... Existem pessoas não binárias. Demétrio já falava sobre pessoas não binárias há muito tempo. Falava sobre pessoas demissexuais, pansexuais, entendeu? E tinha muitas pessoas que não sabiam o que era isso. Ele sempre vivia... Tem várias histórias dele, ele costumava falar sobre isso. Que ele era um homem pansexual. Tem muita gente, hoje em dia, que não sabe ainda o que é uma pessoa pansexual, entendeu?[...] Então, a mente dele, a cabeça dele, já era evoluída a ponto de pensar. E quando você pensa muito, entendeu? É, é isso, né? Ian sabe, quanto mais você é inteligente, mais você pensa, mais você se destrói psicologicamente. [...] Os grandes filósofos, todos eles, entendeu? Sofreram com os pensamentos. [...] Por causa da cabeça, da mente, entendeu? Quanto mais conhecimento a gente adquire, mais a gente enlouquece.” (Ivoni Campos, Acervos Transcestrais, 2024)
Período
2020
Referências Bibliográficas
Não
Objetos Associados
MUTHA.AH.AD.AT.DC.2024.0165
Exposições
Não
Publicações
Não
Restauro
Não
Pesquisas
Pesquisa realizada pelo Museu Transgênero de História e Arte - Mutha para a construção das coleções pertencentes ao eixo temático Acervos Transcestrais, contemplada por meio do edital Funarte Retomada Ações Continuadas - Espaços Artísticos 2023.
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Registrado por
Ian Habib | Mayara Lacal | Beatriz Falleiros
Data de Registro
fevereiro 19, 2025