Mulher trans nascida em 1969. Dos 13 pros 14 anos de idade eu comecei a descobrir esse universo de palco e brilho. Segui minha carreira até os tempos de hoje, porém, em paralelo a isso eu trabalho como diarista, que foi o meio que eu encontrei pra sobreviver também, porque show e palco é bonito de se ver, lindo de se aplaudir, mas, infelizmente, as pessoas que fazem parte dessa gama de teatro, de boates, de casas noturnas não valorizam como deveriam os artistas. Então, era uma coisa que eu fazia de forma prazerosa, em busca de alguma coisa que me desse algum conforto, mas eu sabia que não tinha. Então, eu fazia por amor à arte, porque pelo valor era muito complicado, um valor irrisório, algo que, às vezes, até nem vinha para as minhas mãos. Mas no decorrer da minha trajetória eu tive grandes pessoas no meu caminho, conquistei alguns palcos, que até então eu nunca imaginei na minha vida de subir, de atuar, de participar e eu consegui. E estou até hoje aqui tentando cada dia resistir às mazelas da vida e pedindo a tudo e a todos que haja um respeito, haja uma compreensão, que as portas não se fechem, que a gente no mundo de hoje com alguns pequenos avanços que a gente tem, que a gente conquistou, mas que esses pequenos avanços se tornem mais pra frente grandes e inúmeros, não fiquem só na questão da retificação, da hormonização, de ter um nome social: você ter direitos assim como qualquer outra pessoa tem. O direito de ter direito. E nós precisamos desse direito também. De ser respeitados, de poder fazer o que nós gostamos, de ser quem somos, que é o principal de tudo. É você poder se olhar no espelho. Já que você se aceita naquele espelho, você tem que ser aceito em qualquer lugar que você vá. Porém, também se dando o respeito, porque eu boto minha mão no fogo, mas eu não quero que minha mão se queime totalmente. A gente sabe que uma parte da nossa comunidade LGBT são pessoas que não compreendem esse outro lado da moeda e acham que podem tudo.
COMO CITAR O MUTHA?
O MUTHA é uma obra artística e um projeto científico autoral de Ian Guimarães Habib. Por esse motivo, o MUTHA deve ser citado junto de sua autoria, a partir da seguinte obra:
HABIB, Ian Guimarães. Corpos Transformacionais: a transformação corporal nas artes da cena. São Paulo: Ed. Hucitec, 2021.