Descrição Extrínseca

“Década de oitenta, noventa e por aí e... chamava se Adealó, ela era um... um casarão que até então estava abandonado e aí essa esse, essa pessoa que é através do Ito, chamado Ito, ele pegou esse espaço e ele pense numa pessoa louca, você entrar numa casa totalmente é... prestes a cair, mas ele colocou isso, colocou as pessoas pra assistir uma performance e a gente fazia show em uma madeira de um lado a outro, pense aí ó, a loucura, o palco era no alto era uma madeira, um tablado de uma ponta a outra sem a mínima segurança de nada porque se eu caísse lá de cima não tinha salvação. [...]Mas todo é, mas todo mundo queria fazer show nisso aí, quem é... é o negócio era tão… [...] chamava-se Adé Aló. [...] na mesma época (Esquis) era também outra casa que... que... gente também tinha como opção de noite, pra se distrair. [...] Na Carlos Gomes. [...] a Carlos Gomes tinha muito, muito, sabe, points, sabe muito espaço que a gente saia de um esquina ia pra outra já já sabe, mas depois com o passar do tempo foi acabando foi, foi se perdendo no tempo. [...] E aí depois também dessa pandemia horrorosa que teve aí, afastou mais né, as pessoas desacreditaram mais no no... numa possibilidade de renovar tudo isso, então só fica mesmo essas fotos que é... é ao mesmo tempo que é uma nostalgia fica é... fica a vontade né de tentar até resgatar isso de novo, colocar de novo, mais é algo que não é assim tão fácil pra gente. até... porque… [...] Ito. (dono) [...] ele mora ele mora agora no interior, ele está no interior mas ele também foi uma pessoa que faz parte dessa memória viu, dessa história de de de... de glamour da Carlos Gomes, ele foi muito intenso. [...] Nessa... nesse... eles tinham também na época ele fazia umas revistinhas contando as novidades, as fofocas… [...] Os acontecimentos né, que que existia com algum artista de show alguma coisa... algum fato que… [...] Me segurando pra não cair, não mas aí era uma escadinha... essa escadinha improvisada que a gente... já... já pra ir pro tablado que realmente, esse tablado meu amigo, era pra fazer o show olhando pra frente, porque se você olhasse para baixo ficava...dava... dava vertigem, era mas era muito, ao mesmo tempo que era louco pq era assim absurdo, era gostoso que a gente, isso aí ficava cheio [...] Pense num lugar assim e eu digo meu deus… é… [...] Ele é... ele foi muito criativo com isso aí muito mesmo, agora a criatividade é… [...] é que na verdade toda... toda a nossa noite daqui soteropolitanos da comunidade LGBT era só Carlos Gomes. [...] Barra... era só assim... era só pra quem tinha mais poder aquisitivo a Carlos Gomes era denominado o, o point popular pra quem não tinha quanto gastar mas tinha o quanto a oferecer que era carinho, amizade, todo final de semana a gente tava vendo as mesma pessoas ali então criava se essa... essa fidelidade né, de tá ali se encontrando sempre a noite e... isso aí era maravilhoso, era o que a gente sempre esperava né, todo final de semana, se encontrar já ficava contando as horas né, ai meu deus já tá na hora de ir pra rua, já tá na hora de... aí se encontrava todo mundo ali, tinha também os barzinhos é… em volta. e era... era… [...] E eu gostaria aqui também Ian de deixar registrado é... meu carinho meu respeito e acima de tudo aplaudir, vocês aí que estão fazendo esse trabalho, independentemente sabe, do… do... da.. do financeiro isso pra gente também é importante mas acho que vale muito mais esse registro que você tá fazendo aí agora, porque isso aí vai ficar pra outras gerações outras pessoas que por ventura é não vai talvez me ver em vida, mas vai ver toda essa trajetória aí, que não foi, como eu falei a você no começo não foi muito fácil, mas também não foi tão difícil é superar né, porque muita gente que fala ai expectativa de vida para uma pessoa trans , a gente sempre tem desconstruir , desconstruir esse discurso, porque a gente fala toca sempre nessa tecla de que a gente não pode superar expectativa e a gente pode sim, eu posso, você pode, quem está escutando a gente aí agora pode também, então a gente tem que parar com isso porque a vida é sempre pra gente construir e não desconstruir então isso tudo… [...] E eu fico aqui... fica aqui o meu carinho o meu respeito e acima de tudo esse, essa proposta de vocês aí com a gente né, aqui em salvador você aí do outro lado, isso daí é importante [...] Para que outras pessoas vejam né. e.. e que também contribuam quem queria contribuir com algum acervo, alguma coisa, pra que isso fique guardado pra que a gente possa, outras pessoas possam ver, né [...] Aqui.. que tudo isso aí foi possível. [...] Eu... eu... eu digo sempre que, como eu acabei de falar, o dinheiro, o dinheiro é importante porque a gente tá sendo é... como é... recompensado pelo que a gente... pelo nosso trabalho, mas o... vale muito mais esse acervo isso aí ó, porque isso vai ficar pra vida toda. [...] dinheiro passa, dinheiro acaba e isso aí é uma coisa que vai ficar sempre… [...] Vai ficar guardado, vai ficar guardado. (Fabiane Galvão, Arquivo Vivo, 2022)