Descrição Extrínseca
“É...Esse foi um almoço que... o coletivo Mascucetas, a banda, Mascucetas...Eu fazia parte da banda, e... na época o Lucas Ávila, é... nos convidou pra almoçar na casa dele, e o João Nery e a Sheila, que era, que é a viúva né, dele, estavam lá, e aí ele convidou a gente pra almoçar com, pra conhecer o João Nery. Aí fomos eu, o Rodrigo Carizu, o Bruno Banjo e o Lui Rodrigues, que era a formação da banda na época. A gente passou o domingo com ele. Então, eu levei um presente pra ele, levei um, um, é, algumas algumas coisas de presente, e dentre elas tinha o livro, que é o meu primeiro livro publicado, né? Que era formato independente, que eu ainda não tava na editora. Então, foi uma publicação independente do Generalidades ou Passarinho Loque Esse, que eu dei ele de presente. E aí ele sentou, tirou o chapéu, porque ele ficava só de chapéu, aí ele tirou o chapéu e começou a ler o livro. E foi isso. E a gente ficou conversando também sobre literatura. Ele comentou que ele ficava fazendo... Tipo assim, “Nossa, que legal”, ele era muito fofinho. E falando, “você tem que continuar escrevendo, a sua voz está na poesia, não para de escrever”, coisas assim. E... Eu lembro também que eu fui o primeiro a chegar, que os meninos chegaram atrasados. Então, nesse momento dessa foto aí, na verdade, é... Deve ter sido o Lucas Ávila que tirou, então. Porque os meninos não tinham chegado. Eu lembro que eu tive um momento, só eu e ele, antes dos outros chegarem. Ah, gente, eu vou chorar. É um livro de poesia. Ah... Ele é muito importante para mim. Inclusive, meu nome tem a ver com ele também. Eu tenho um avô que chama João, e tem o João Nery. Eu escolhi meu nome muito por causa dos dois. É...Foi a primeira referência que eu tive... Quando... No início, né? Que eu não, não sabia o que era trans e tal, foi a primeira pessoa que eu vi na mídia, né? Que eu fiquei sabendo da possibilidade de existência de homens trans. Eu sabia, na real. E... Aí eu busquei o livro dele. Eu já tinha encontrado com ele no BDMG, que eu fui num evento que ele ia palestrar. Aí eu levei o livro dele, Viagem Solitária, e ele assinou para mim. Mas tinha muita gente, então foi bem rápido. Foi um abraço, ele assinou meu livro. Tem uma foto desse dia também. Depois, eu o encontrei no primeiro Encontro Nacional de Homens Trans. Foi na USP, em 2015, no ENAHT. Também foi rápido, porque muita gente. Esse aí foi a primeira vez que a gente teve alguma intimidade, né? Uma coisa que a gente passou um dia, a gente se abraçou, a gente se olhava bastante. Ele contou muitas histórias também, deu conselhos, fez piada. A gente tocou violão para ele. Então é isso, é uma relação. Eu tenho ele como um pai, um avô, talvez, um ancestral. O mais importante que eu tenho é ele. É...acho que é isso mesmo […] ao fundo está a Sheila, né? Ela aparece na foto. […] a viúva dele.[...] Ela ficou muito [Inaudível]. Ela é muito fofa também, porque ela queria que a gente interagisse com ele. Ela ficou bem na dela, no cantinho, assim, quase não falou. Mas muito amorosa também. Depois ela entrou em contato. Quando ele estava doente, eu conversei com ela. A gente se segue no Instagram. Ela sempre me incentiva nos meus trabalhos, minhas coisas. Ela sempre curte. Ele (João Nery) ficou no hospital. Ele teve uma trombose. Ele estava com câncer também. Ele morreu de câncer. Aí foi nesses últimos dias dele no hospital, sim, também. Que eu falei com ele.Esse aí foi o terceiro encontro, porém, o primeiro, assim, né? Oficial, né? Que ele também sabia quem eu era mesmo. Foi a primeira vez. E quando ele estava internado, que ele gravou um vídeo, mandando um recado também, a Sheila, o Lucas Avalon, passou também algumas informações e eu consegui conversar com ele no hospital, pelo telefone. Ah...Ele tava muito... Só agradecendo mesmo pelo carinho. Ele não tava conseguindo conversar muito, não. Ele chamava de meu filho, né? “Obrigado, meu filho”. Falando bem pouco mesmo.” (Jomaka, Acervos Transcestrais, 2024)
