Descrição Extrínseca
“O que eu me lembro era que ela me chamou pra ir pra casa. Ela já tava na casa desse amigo dela. [...] Já tava assim de noite, tarde da noite, e ela me chamou, me mandou uma mensagem no WhatsApp, perguntando onde eu tava e falando pra eu ir pra casa, pro apartamento desse amigo dela. Eu já conheci alguns amigos dela da época do colégio, das pessoas que ela estudava, mas não tinha muita intimidade, e eu cheguei lá. E aí a gente ficou escutando música, e o pessoal tava cheirando pó, e aí eu também cheirei junto com ela, e ela tava muito feliz, muito contente, porque ela tinha finalmente recebido o diagnóstico
que ela tanto estava lutando de bipolaridade. E... E ela tava feliz porque ela falou, “Bom, agora que eu tenho esse diagnóstico, vai ser bom porque vocês...” as amigas dela, os amigos dela, vão poder saber como lidar com ela quando ela estiver em estado de mania, quando ela estiver muito depressiva, vão saber como atuar ali, né? Diante de alguma situação que acontecer com ela. E ela disse que também teriam tratamentos específicos e que ela não estaria mais tão perdida, e ela mostrou pra mim que seria um momento, e eu falei isso também pra ela, que é um momento de renovação, porque ela já tinha tentado se matar algumas vezes, e ela tava muito... É... Tinham momentos que ela estava muito mal, e aí eu falei isso pra ela, ela também concordou de que era um momento de renovação, de que era um momento de abrir as portas assim, pro novo, de que coisas boas viriam, né? A partir de que a gente estaria entrando numa outra página da vida. E ela também comentou um pouco sobre duas amigas nossas, que é a Lua e a Vidda, que também estão em algumas fotos, porque as três moravam juntas, eu não morava com elas, as três moravam juntas, mas a gente sempre tava juntas, as quatro. E as três moraram juntas e brigaram feio, e elas pararam de falar uma com a outra. E aí ela comentou um pouco sobre as duas e falou que não deveria ter deixado de falar com a Lua, porque ela já namorou a Lua, e que ela tem muita saudade da Lua, mas que acha que a Lua não ia querer falar com ela. Ela também falou da Vidda, de que não tem mais raiva da Vidda, de que queria conversar também com a Vidda. Tava num momento muito... E ela estava muito carinhosa também, ela que chamou pra tirar essa selfie. Ela falou, “Ah gente tem que tirar uma foto juntas!”. E ela tava muito carinhosa, eu tava muito feliz, a gente estava muito íntima, a gente estava muito amigas, muito confidentes, e super animadas, né? Por causa do pó. E aí... Deixa eu ver o que mais... É, foi isso, sim. Foi... Foi uma noite boa. [...] eu queria tentar lembrar algumas músicas que eu lembro que ela comentava de algumas músicas que tavam tocando na hora, mas eu não consigo me lembrar muito.” (Maria Léo Araruna, Acervos Transcestrais, 2024)
