Documento
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MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024
Identificação e Características do Objeto
Acervo
Acervos Transcestrais
Número de Tombo
105
Número de Registro
MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024.0105
Objeto
Vídeo (37 seg)
Título
Carona na bicicletinha
Autoria
Maria Léo Araruna
Identidade e Subjetivação
Dimensões
478 x 850 pixels
Material
Digital
Origem
Entre as quadras do Sudoeste, Brasília/DF
Procedência
Brasília, DF
Tipo de Aquisição
Doação
Pessoa ex-proprietária
Maria Léo Araruna
Data de Aquisição
janeiro 1, 2025
Estado de Conservação
Bom
Classificação Etária
Maiores de 16 anos
Informações Contextuais
Descrição Extrínseca
“Sou basicamente eu rindo, porque eu tô na... A gente fez uma gambiarra que eu tô sentada na bicicleta que ela está dirigindo, a bicicleta dela, da Taya. Ela tava dirigindo e ela veio até a minha casa. Ela saiu do hotel que ela estava ficando, que ela tava morando no hotel. Ela veio até a minha casa de bicicleta para me pegar, para me levar de volta para o hotel dela. Então, ela... Eu fiquei sentada na parte de trás da bicicleta. Tem um espaço para colocar coisas, assim, para pendurar objetos. E eu fiquei sentada ali de perna...perna cruzada, assim, sabe? Perninha cruzada. Sentada. E tava muito difícil para ela pedalar, porque tava pesando muito. E isso fazia eu rir muito. E é basicamente eu rindo no vídeo, assim. Eu morrendo de rir, mostrando. Ela fazendo esforço ali, ela dirigindo. Ela me xingando. Mas tudo, assim, na brincadeira, né? E... E eu adorando, assim, aquilo ali. E eu ficava, às vezes, me mexendo na parte de trás, para eu conseguir caber na bicicleta. E ela ficava muito brava, ela ficava gritando comigo. Brigando comigo para eu parar de me mexer, porque senão a gente ia cair. Porque ela, senão, não ia dar conta. [...] Ah! É... Ela foi até a minha casa, até o meu apartamento. Ela subiu lá. E a gente teve... A gente sentou nas duas poltronas que tem na minha casa e a gente ficou conversando muito. E foi uma conversa muito gostosa. Foi uma conversa muito feliz, muito boa. A gente terminou a conversa se amando, assim. Adorando muito conversar uma com a outra. Porque a gente estava falando sobre transexualidade, transgeneridade, e como ser uma pessoa trans e lidar com o mundo, e sobre saúde mental também, e sobre o quanto eu, às vezes, tenho pensamentos muito negativos. E eu lembro que ela falava... Eu falava que os meus pensamentos eram, tipo, eu mesma me detonando, me achando uma péssima pessoa. E ela falava que... É... “Nossa, para com isso, nada a ver, não sei o quê”. E falava que com ela era totalmente diferente, que ela acha que as pessoas é quem fizeram mal para ela. Ela não se vê de uma forma negativa, ela não se vê de uma forma pejorativa. Foi o mundo, as pessoas, que machucaram muito ela. E ela tem noção disso. E aí eu lembro também que, nesse dia, é... Eu peguei um livro, que é um dos meus livros favoritos, que é o livro O Parque das Irmãs Magníficas, da Camila Sosa Villada, que é muito bom. E aí eu apresentei para ela esse livro, e eu falei que depois ia emprestar para ela ler. E eu li um trecho do livro para ela. E ela ficou... “Nossa!!” ela ficou tocada. E aí eu fui e peguei um outro livro do Paul Beatriz Preciado também. Eu tava super animada, assim, que ela estava ali, que a gente estava conversando essas coisas. E aí tipo, eu estava mostrando para ela esses textos do tipo, numa intenção de tipo “Olha que massa, olha a forma como essas pessoas desvendam a transexualidade, como elas abordam isso de uma forma tão inteligente, tão singela, tão potente, tão política e forte.” E aí tinha esse outro livro do Paul Beatriz Preciado também, que eu mostrei para ela, um trecho, que era o livro Eu Sou Um Monstro Que Vos Fala. E aí eu lembro que eu mostrei o trecho que ele associa o desmantelamento da África durante o processo de colonização com a apropriação do corpo trans pelas ciências psíquicas. Foi bem esse trecho que eu mostrei, quando ele faz uma associação do tipo. E aí eu mostrei para ela e ela também adorou, ela achou incrível. E aí eu falei que podia emprestar para ela depois. E aí, depois que a gente teve essa conversa e tudo isso, a gente saiu, eu montei na bicicleta e a gente foi. E foi muito engraçado. Tinha horas que ela mandava eu descer, e aí ela descia também, e a gente andava a pé com a bicicleta ali, porque estava muito pesado, tava numa subida e tava muito difícil para ela pedalar. Mas aí a gente conseguiu, finalmente conseguiu. Eu lembro que eu tirei uma foto dela com a bicicleta e eu postei nos meus stories, e eu escrevi assim, “Minha namoradinha, Taya Carneiro”. Lembro que eu escrevi isso. E aí a gente foi para o hotel dela, ela guardou a bicicleta na garagem do hotel. Que mais? E assim, depois, no final das contas, a mãe dela, quando a Taya morreu, eu postei esse vídeo, que tava nos stories só, aí eu postei mesmo no Instagram. E aí a mãe dela viu, e depois de alguns dias, algumas semanas, alguns meses, depois que a Taya morreu, a mãe dela me chamou até a casa dela, que ela falou que queria me dar algumas coisas da Taya. E aí eu fui até a casa da mãe dela. E chegando lá, ela tinha me dado a bicicleta da Taya, que é essa bicicleta do vídeo. Justamente por causa desse vídeo. Ela falou que achou tão legal esse vídeo, esse dia. A gente tava tão feliz juntas. E ela decidiu me dar a bicicleta da Taya como uma uma lembrança dela. Eu ainda tenho a bicicleta. E aí, agora, eu e a Vidda, que é essa nossa amiga, a gente anda de bicicleta juntas, muitas vezes. E o nome da bicicleta da Vidda é Buci. E aí, para combinar, eu dei o nome da bicicleta de Eta. E aí nós duas juntas ficamos, né? Buceta. E aí... É isso, assim, a história do vídeo. [...] Foi no primeiro semestre de 2023. A gente tava bem próxima nesses meses que antecederam a morte dela. (Maria Léo Araruna, Acervos Transcestrais, 2024)
Período
1º semestre de 2023
Referências Bibliográficas
O parque das irmãs magníficas - Camila Sosa Villada; Eu sou o monstro que vos fala: Relatório para uma academia de psicanalistas - Paul B. Preciado.
Objetos Associados
MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024.0151
Publicações
Redes Sociais (Stories; Postagem; Instagram) Maria Léo Araruna
Restauro
Não
Pesquisas
Pesquisa realizada pelo Museu Transgênero de História e Arte - Mutha para a construção das coleções pertencentes ao eixo temático Acervos Transcestrais, contemplada por meio do edital Funarte Retomada Ações Continuadas - Espaços Artísticos 2023.
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Registrado por
Beatriz Falleiros | Ian Habib
Data de Registro
fevereiro 19, 2025