Identificação e Características do Objeto
Miniatura

Acervo
Acervos Transcestrais
Número de Tombo
138
Número de Registro
MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024.0138
Objeto
Fotografia Digital
Título
Fritação da Corpolítica
Autoria
Shake it
Identidade e Subjetivação
Descrição Intrínseca
Fotografia digital colorida de 11 pessoas, sendo que 9 delas estão de pé no plano do fundo e 2 delas agachadas no plano da frente. No plano da frente estão, da direita para a esquerda Lua Stabile, de lado, jovem branca, mandando beijo com os lábios, de vestido preto e branco com estampa de zebra, jaqueta de couro preta e cabelos lisos castanhos claros amarrados para trás, e Taya Carneiro, jovem branca, vestindo camiseta de animal print de oncinha amarelada e peta, cabelos lisos, castanhos claros e no ombro. No canto inferior direito um lettering em branco escrito "Shake it”.
Dimensões
1.600 x 1.066 pixels
Material
Digital
Origem
Festa Factory/Usina/Brasília/DF
Procedência
Brasília, DF
Observações
Não
Tipo de Aquisição
Doação
Pessoa ex-proprietária
Maria Léo Araruna
Data de Aquisição
janeiro 1, 2025
Estado de Conservação
Bom
Classificação Etária
Livre
Informações Contextuais
Descrição Extrínseca
“É, a gente andava muito grudada, todo mundo que tá aí. Era muito grudada, e todo mundo que tá aí era da Corpolítica. A gente compunha a Corpolítica, tinha mais gente. Mas todas essas pessoas faziam parte. E a gente tava bem no início, assim... Não tão no início, mas um pouco depois, assim… Uns dois anos depois de iniciar a nossa transição. E pra todo lugar que alguém queria ir, todo mundo ia junto. E a gente ia muito nessa festa, que se chamava Factory. E a gente... E assim, era marcado por uma coisa que a gente ficava repetindo sempre, que é como a gente era doida, que a gente ficava até de madrugada, e a gente dançava muito, a gente performava, a gente falava que era muito feia, muito estranha, muito brega também. Porque a gente tinha cabelo colorido, a gente usava umas roupas doidas. E a gente era como se fosse uma família, porque a gente tava junto toda hora. A gente se encontrava sagradamente todos os sábados pra realizar os nossos encontros da Corpolítica, mas a gente se via muito além dos sábados. Apesar dos sábados serem o nosso momento mais profissional, de realmente tocar Corpolítica, de receber convidados, de fazer conversas públicas pra quem quisesse participar, a gente sempre tava junto. E esse foi um dos momentos. E a Taya era DJ também, acho que eu já comentei isso em outras fotos. Ela era DJ e ela adorava botar fritação pra gente dançar, e eu amava, porque eu sempre gostei muito de eletrônica e de música bem doidona, barulhenta, e eu amava as músicas que ela colocava como DJ. E ela sempre falava, “Ah, vou botar fritação pra Maria Leo se acabar”. E eu ficava muito doida dançando, e eu sinto muita falta disso, do gosto musical dela, das músicas que ela gostava de tocar nas festas. Era sempre um momento esperado, porque “Agora é o momento que a Taya vai tocar, finalmente, que a gente vai se acabar” [...] Eu não me lembro se é esse dia, mas tem algo muito marcante que aconteceu entre mim e a Taya na Factory, nessa festa. Não me lembro se foi... Eu acho que não foi exatamente esse dia, mas que tem a ver, né? Porque foi nessa festa que eu e a Taya, a gente brigou. E foi uma briga que eu lembro muito. Até hoje, eu sempre comento dessa briga. E antes da Taya falecer também, eu lembro de ter comentado com ela dessa briga também, e a gente ri depois, que foi o quê? A Taya estava tocando como DJ, só ela estava sendo DJ da gente, desse grupo. E aí o dono da festa, um dos donos da festa, ou a pessoa responsável pela festa, impediu ela de tocar todo o set dela. Tirou ela antes. Pra colocar uma gay cis para tocar. Então ela já meio que entrou atrasada também para tocar, e cortaram ela antes. E ela ficou muito puta, ela ficou muito chateada, por causa disso. Ela ficou revoltadíssima, e a gente tava lá, se divertindo na festa e tals, ela tinha terminado, a gente tinha achado que ela tinha terminado o momento dela de tocar, e ela chegou muito brava e falou, “Vamos embora, gente, vamos embora, esse povo aqui é tudo transfóbico, bando de idiota, transfóbico, não sei o quê, me impediu de terminar de tocar, para botar um cis para tocar, não sei o quê, e vamos embora, vamos embora agora”. E aí eu virei para ela e falei assim, “Não, a gente não, eu sinto muito, mas a gente não vai embora, não é assim, só porque você quer, a gente vai embora. A gente está se divertindo, tem várias pessoas aqui, e você tem que ver com as pessoas se elas querem ir embora”. E aí ela ficou muito brava comigo. Ela ficou muito brava e falou que eu era egoísta, que, enfim, questionou né? A nossa amizade, porque eu não apoiei ela, ainda mais numa questão que ela estava trazendo, que era de transfobia. E aí.. E aí ela… A gente continuou discutindo, e aí ela decidiu ir embora da festa, sozinha, e a Lua foi com ela também. E eu e outras pessoas continuamos lá. E no dia seguinte, eu fui até a casa da Taya, eu me lembro que ela tava cozinhando alguma coisa, e eu tava com essa minha amiga, que tá aqui do meu lado, de vestido, de batom escuro, que é a [Mariá]. Eu e ela, a gente tinha ido na casa da Taya, que também era a casa da Lua. E aí eu lembro que a gente estava meio que de boas, eu achei que a gente brigou ontem, mas foda-se. E a gente estava conversando e a Taya falou que eu era muito cabeça dura, que eu era muito teimosa, e que eu não tinha facilidade para pedir desculpas. E aí eu questionei ela, a gente começou a brigar de novo, porque eu falei que não era eu que tinha que pedir desculpa, era ela que tinha que pedir desculpa por ter sido sem noção. E a gente continuou brigando, e eu lembro que eu saí muito magoada, eu saí da casa dela chorando, fui para baixo do bloco, porque sempre era muito difícil para mim as minhas brigas com a Taya, eram sempre muito intensas, eram sempre muito duras. A gente conseguia tocar uma a outra de forma muito intensa emocionalmente quando a gente brigava, e era sempre muito forte. E a gente sempre saía muito machucada quando a gente brigava. Tiveram outras brigas entre a gente que foram muito tensas também, não há registro fotográfico desses dias, mas a gente achava também que essas brigas eram um pouco uma comprovação também do quanto a gente era amiga, porque a gente brigava, mas a gente sempre tava juntas, a gente sempre continuava juntas, e a gente se perdoava também muito fácil, e… A gente se magoava muito uma à outra, mas a gente via o quanto a gente era amiga, o quanto a gente se amava por causa dessas brigas também, que eram muito fortes entre a gente. A gente falava, às vezes, crueldades assim, uma para a outra, coisas cruéis, mas a gente não se largava, a gente não se abandonava. E eu acho que também por isso, por causa dessas brigas, por causa de como a gente era, por causa de como a gente não deixava uma ganhar da outra, a gente não abaixava a cabeça uma para a outra, a gente se respeitava, a gente se admirava. É um pouco tóxico falar isso, mas acho que faz parte... (Maria Léo Araruna, Acervos Transcestrais, 2024)
Período
2016
Objetos Associados
MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024.0136 MUTHA.AH.AD.AT.TC.2024.0139
Exposições
Não
Publicações
Redes Socias (Instagram e Facebook)
Restauro
Não
Pesquisas
Pesquisa realizada pelo Museu Transgênero de História e Arte - Mutha para a construção das coleções pertencentes ao eixo temático Acervos Transcestrais, contemplada por meio do edital Funarte Retomada Ações Continuadas - Espaços Artísticos 2023.
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Registrado por
Beatriz Falleiros | Ian Habib | Mayara Lacal
Data de Registro
fevereiro 26, 2025